Há mais de 100 dias escrevi, no mesmo Portal Morada, um texto propondo a reflexão sobre o Departamento Autônomo de Água e Esgoto, o DAAE, de Araraquara diante de algumas decisões da Prefeitura sobre sua organização e funções (leia aqui). Historicamente, o Departamento é referência na área da gestão pública da água e esgoto de municípios brasileiros e a cidade tem neste um dos seus orgulhos. No entanto, mas não surpreendente, chegou a público a saída do superintendente Wellington Cyro de Almeida Leite – 29 de setembro – sendo a primeira do alto escalão municipal do governo do prefeito Edinho Silva, 2017-2020.
Essa decisão entre Cyro e Edinho surge após a polêmica sobre a decisão do DAAE em trocar hidrômetros por toda a cidade, pois os mais antigos estavam levando a perdas impactantes nas finanças públicas. O resultado obtido foram reclamações dos cidadãos que, com essa mudança, de um mês para o outro viram suas contas de água subirem de forma exponencial, se tornando a pauta da imprensa local. Cyro não resistiu a mais essa exposição de sua gestão e caiu. E o DAAE, mais uma vez, viu sua imagem de gestão pública eficiente e efetiva ser alvejada, sem ter uma resposta à altura.
Mas seríamos ingênuos em pensar que a saída de Cyro é consequência exclusiva deste assunto. Infelizmente, o que podemos perceber pelos sinais, que escapam à manipulação, é que os problemas do DAAE estão longe de serem resolvidos e são acumulativos. Podemos relembrar aqui a decisão do ex-prefeito Marcelo Barbieri em levar ao Departamento a limpeza de praças e outros espaços públicos, bem como a atual extinção da Secretaria do Meio Ambiente, por parte do prefeito Edinho Silva, que levou funções novas ao Departamento.
Não está público a real situação do Departamento, tão pouco os motivos que levaram um dos indicados mais próximos do prefeito do Edinho Silva sair em menos de um ano do novo governo, algo está posto que nós não sabemos. E a entrevista do prefeito Edinho Silva dada ao Jornal da Morada, em 02 de outubro, deixou lacunas sobre o assunto e fez a conversa descambar sobre a polêmica da privatização do Departamento, impondo ao chefe do Executivo local a recorrer a confiança que a cidade mantém sobre suas intenções. Longe de tratarmos esta questão, pois não há qualquer indício de venda deste patrimônio – mas fiquemos atentos -, o debate era porque sua gestão não conseguiu resolver a complicada situação do DAAE que se agravou tanto que levou à saída de seu superintende – e homem de confiança -, consolidando assim um horizonte de novas dificuldades.
O corpo técnico do DAAE é de muita qualidade e tem todas as condições de gestar o Departamento de forma a trazer de volta sua reputação de autarquia capaz e de qualidade. Contudo, Cyro, sem sombras de dúvidas, é um dos quadros técnicos de Araraquara mais capazes no assunto e seria de grande ajuda nessa travessia delicada que passa o Departamento, e sua saída acende a luz amarela, nos impondo a tratar esta situação de maneira mais responsável e pública.