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CEU das Artes no Indaiá ganha mural de grafite

Projeto selecionado no Território da Arte contempla time de grafiteiros de Araraquara

Três artistas visuais de Araraquara – todos grandes grafiteiros – estão unidos na execução do projeto “Palheta de Cores do Arrebol”, que vem sendo executado no CEU das Artes, no Jardim Indaiá, dentro da programação do Território da Arte de Araraquara.

Bonet, Luis Henrique Sniffo e Thiago Kiddy, guiados pelos fundamentos e nutridos pelas raízes da cultura Hip-Hop, começaram no último dia 10 a produção de um mural de 50 metros quadrados. “O intuito é levar através do grafite a sua força e poder na liberdade de expressão de arte pública, ocupando oportuna e significativamente muros e suportes que permeiam os espaços e os cidadãos que ali protagonizam”, conta Kiddy.

Para tanto, o time vem trabalhando as artes do mural somente com a “palheta de cores do arrebol”, ou seja: os tons utilizados são os da cartela de cores do por do sol, este um cartão postal da Morada do Sol e, aí, então, a homenagem aos 200 anos da cidade.

“A temática escolhida é em comemoração aos 200 anos da cidade que tem em seus entardeceres verdadeiras obras primas, tipicamente araraquarenses”, explica Bonet. Com temas variados, o mural traz a arte dos três artistas, propondo diversos personagens distintos. Na verdade o mural se divide em cinco partes, tendo os artistas a missão de ocupá-los da melhor forma possível. E assim vem sendo feito até o próximo dia 23, quando chega ao fim a execução do projeto. Contudo, com o interesse e aproximação da comunidade durante o processo de grafitagem, o projeto tende a se desdobrar em oficinas junto aos interessados do entorno do CEU das Artes.

Ocupar o CEU das Artes foi uma proposta de “Palheta de Cores do Arrebol”, escolhida a dedo pelos artistas. “Escolhemos o CEU por ser um lugar que está fora, socialmente falando. Às vezes a informação não chega para eles lá, ou chega de forma reduzida e fragmentada. A proposta é levar nossa experiência e estimular os interessados”, explica Kiddy.

Sniffo acredita que a região central da cidade já está cheia, com muita informação. “É onde circula a arte. Naturalmente o grafite precisa estar onde a cidade cresce. Na região periférica tudo demora a chegar. Temos que chegar com o grafite lá e as pessoas vivenciá-los: vendo e fazendo”.

Já Bonet considera a localização do CEU das Artes, no Jardim Indaiá, “um dos melhores da cidade”. “É distante e está, de certo modo, esquecido pelos grafites, assim ocuparemos para uma população carente de arte”, diz. “O grafite é uma porta de entrada para a arte, teremos um contato direto com a população, e isso é o mais importante”, aposta.

 

Artes

Vale lembrar que Kiddy leva para o CEU a sua marca, que faz uma conexão do grafite com referências do design gráfico. Seus personagens “quadradões” aparecem num universo de formas e retas, num universo geométrico. O artista apresentará, em um dos murais, um busto siamês, com dois personagens colados.

Ilustrador com formação em Design Digital, Kiddy e seus companheiros têm a ideia de dividir seus conhecimentos. Para Kiddy, o mais importante é o que o grafite o formou como pessoa. “Eu fui estudar design e arte educação, graduação e especialização, por causa do grafite. E agora farei uma pós em gestão de projetos em arte e cultura”, emenda.

Kiddy começou no grafite em 97, época que não tinha internet. “Comecei sozinho, com poucas influências, porém com a influência da pixação – que veio para mim como cultura Hip Hop e era mal visto. De 97 para cá foi uma evolução: é uma caminhada de 20 anos e o mais importante é que me formou como pessoa”.

Sniffo também começou pixando na adolescência e o grafite se consolidou em 2010, a partir de alguns estudos. “Começou a ser mais significativo”, explica o campineiro e químico. “Da licenciatura em química tirei a parte da docência, de exercer a educação; e juntar o lance da arte que é o que me move. Meus estágios de extensão foram todos em lugares de educação não formal, como o CCA – Centro de Ciências de Araraquara. Ficou a parte da ludicidade da química”, garante. “Grafite me fez amadurecer e consegui ter uma grande vivência com troca de informações entre a galera do grafite, além de eu estar sempre estudando”.

Em “Palheta de cores (…)” Sniffo segue uma linha de estudo de retratos. “Serão duas faces de mulheres com características do povo brasileiro”, explica, lembrando que uma delas é uma senhora de idade. “E o local é bem significativo. Será uma ressignificação do espaço, com o grafite trazendo o olhar de quem passa por lá”, pontua Sniffo.

Os desenhos de Bonet chegam em dois painéis, seguindo as características da sua arte de rua: captando a expressão – por meio do olhar e do rosto – de pessoas ou animais. “Em um painel retrato uma mulher negra, alusão a uma trabalhadora. Ela é como um suporte para o por do sol: como se a luz viesse de dentro dela, surgindo o brilho dela. Junto a isso, há um jogo de geometria fazendo a composição toda”, explica o artista que também atua na área de tatuagens. “O outro trabalho apresenta uma arara, que remete ao Brasil, usando as cores do nascer do sol. Assim, em um mural temos as cores do por do sol e, no outro, as do nascer do sol”.

 

Comunidade

Os artistas têm chamado a atenção dos moradores do bairro. Diariamente, pela manhã e a tarde, os grafiteiros se reúnem no CEU para a execução dos murais. Um grupo de pessoas, formado em sua maioria por crianças e jovens, tem acompanhado o processo criativo de grafitagem.

Toda a movimentação dessas duas semanas no CEU já despertou o interesse e curiosidade e, atenta a isso, a Secretaria Municipal da Cultura e Fundart já vislumbram a implantação de workshops e oficinas no local, para atenderem a demanda da comunidade.

"Levar o grafite para os bairros mais afastados do centro está dentro da nossa política cultural de descentralização e inclusão por meio da arte. Esta belíssima intervenção do projeto ‘Palheta de Cores do Arrebol’ vai para muito além de embelezar a paisagem urbana, uma vez que traz para perto do espaço público a comunidade que dele pode e deve se apropriar. Pela receptividade que temos encontrado, certamente pretendemos instalar oficinas culturais de grafite, sobretudo nas regiões mais vulneráveis de Araraquara", afirma a secretária municipa da Cultura, Teresa Telarolli.

Para Sniffo, o grupo de artista atingiu o objetivo. “A arte deve ser provocativa de diversas maneiras. O grafite vai além do trabalho na parede: são os encontros, a união, a arte… tem que ser verdadeiro”, finaliza.

 

Redação

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