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Confira a trajetória da afeana Barrinha

Lateral participou de mais de 100 jogos com a camisa da Ferroviária

Com mais de 100 partidas disputadas pela Ferroviária, Barrinha continua com apetite de jogo em 2020. Aos 32 anos, a lateral esquerda foi titular em todas as partidas das Guerreiras Grenás neste ano. Esta história começou em Araçatuba, no dia 23 de dezembro de 1987.

Ainda criança, Ana Maria Barrinha já gostava de futebol. O campo era a rua, e jogava bola com seu irmão Júlio, dois anos mais velho. “Meu irmão jogava na rua com os amigos dele, e eu sempre ia atrás para jogar. Meus pais não gostavam muito, mas sempre que eles davam uma distraída, eu ia jogar”, relembra. Mas quem também começou a não gostar da presença da Barrinha nas ‘peladas’ foi o seu irmão. Motivo: qualidade técnica. “Os amigos do meu irmão zoavam ele porque falavam que eu jogava melhor, e ele ficava bravo. E eu era dois anos mais nova né. Mas eles tinham razão, eu era melhor mesmo (risos)”.

Barrinha começou no futsal. Na escola, disputava os campeonatos interclasses e se destacava. Depois, entrou pra escolinha da cidade, com o técnico “Seu” Cido. “Tinha várias meninas que gostavam de jogar, era bem legal”. Com nove anos de idade, já queria ser jogadora de futebol.

Em 2004, com 16 anos, começou a disputar campeonatos de futsal por Araçatuba. Pela primeira vez, a cidade formou um time feminino da modalidade. A família apoiou, mas teve algumas resistências. “Teve alguns parentes que questionavam ‘ela não vai arrumar um emprego?’ , ou ‘futebol é pra homem’. Minha mãe ficava um pouco preocupada, mas ela sempre me apoiou”, fala. Quando tinha jogos em Araçatuba, a família toda ia assistir.

Atuando como ala esquerda, Barrinha disputou futsal pela cidade até 2008. Ela chegou até a receber propostas de outros times e passar em testes, mas optou por ficar em Araçatuba por causa dos estudos. “Na época, eles me deram bolsa de faculdade. As equipes que queriam que eu fosse não iriam me oferecer faculdade, aí não compensava. Me formei em Educação Física”.

Uma destas oportunidades de deixar Araçatuba foi em 2007. Barrinha fez um teste para o time de futsal de Guarulhos. “Eu não tinha dinheiro pra ir. Tinha um amigo de uma amiga que era caminhoneiro, e ele ia para São Paulo. Ele me falou que dava carona até São Paulo e depois eu me virava para chegar em Guarulhos. Eu aceitei. Minha mãe ficou preocupada, quando eu saí com ele no caminhão ela começou a chorar. Mas eu queria tentar”. Já em São Paulo, pela primeira vez na vida Barrinha pegava um metrô. Ela chegou no local, fez o teste e foi aprovada. “Depois da aprovação, fui conversar com eles sobre o que ofereciam. Não tinha bolsa de estudos nem alojamento, e o salário era muito baixo… aí eu voltei pra Araçatuba né. Mas dessa vez foi de ônibus (risos)”, recorda.

Quase todos os anos, Araçatuba enfrentava Rio Preto nos jogos regionais. Em 2008 não foi diferente: os dois times chegaram na final. Foi quando começou a mudança na vida de Barrinha. “A Doroteia, que era coordenadora de futebol do Rio Preto, gostou do meu futebol e me chamou para jogar lá, no time de campo. Eu falei que nunca tinha jogado campo, mas ela disse que eu iria aprender”. Em 2009, já atuava pelo novo time.

No Rio Preto, Barrinha jogava pelo time de campo e também de futsal. Lá, ela atuou com atletas que depois reencontraria com a camisa da Ferroviária, como a meia Raquel Fernandes e a lateral Gabi Arcanjo.

Barrinha continuou com os estudos. Fez bacharel em Educação Física. Desta vez, sem bolsa. “Paguei do meu próprio bolso. Na época dava pra conciliar futebol e estudos, porque ainda não tinha o Brasileiro Feminino. Era apenas Paulista e Copa do Brasil”.

Pelo Rio Preto, disputou a primeira edição do Campeonato Brasileiro Feminino, em 2013. O time chegou até a semifinal, e ela marcou sete gols na competição. No mesmo ano, Barrinha foi vice artilheira no Campeonato Paulista, com 12 gols. Ficou atrás apenas de Raquel Fernandes, que já estava na Ferroviária.

Com boas atuações, Barrinha foi convocada para a Seleção Brasileira. “Disputei o Torneio Internacional em Brasília. Fomos campeãs. Em 2014 também fui para a Seleção jogar amistosos na Austrália”. Na época, o técnico era o Marcio Oliveira.

Depois de seis anos no mesmo time e com 26 anos de idade, Barrinha tomou uma decisão. “Um dia eu pensei: acho que estou acomodada. Em 2014 o Rio Preto não iria disputar o Brasileiro, e surgiu uma proposta do Kindermann-SC”. Foi pra Santa Catarina.

Em 2014, chegou na final do Campeonato Brasileiro pelo Kindermann-SC. Adversário: Ferroviária. “Perdemos o primeiro jogo em Santa Catarina. Na segunda partida, em Araraquara, eu lembro que tinha muita gente no estádio. Perdemos novamente”.

A Ferroviária já tinha tentado contratar Barrinha anteriormente, com intermédio de Douglas Onça. Em 2015, Barrinha finalmente veio para Araraquara e vestiu a camisa grená pela primeira vez.

Naquele ano, a Ferroviária chegou na final da Copa do Brasil. Adversário: Kindermann-SC. As Guerreiras Grenás foram derrotadas. “Comecei a pensar que o problema era eu. Aonde eu estava, o time perdia (risos)”.

No restante de 2015, a Ferroviária não fez uma boa campanha no Paulista, nem no Brasileiro. Além disso, perdeu algumas jogadoras para a Seleção Permanente, projeto da época para a disputa da Copa do Mundo do Canadá e das Olimpíadas do Rio de Janeiro.

As Guerreiras Grenás tinham garantido vaga para a Libertadores daquele ano, que foi disputada na Colômbia. “Chegamos desacreditas, mas deu tudo certo”. O time, sob o comando de Leonardo Mendes (hoje técnico do time sub-20 masculino), se superou e conquistou o título continental, numa campanha invicta com 4 vitórias e 1 empate. A decisão aconteceu no estádio Atanasio Girardot, em Medelín, no dia 08 de novembro. A Locomotiva derrotou o Colo Colo-CHI por 3 a 1, e o terceiro gol foi marcado por Barrinha. “Não tem nem como explicar a emoção, foi surreal. A Pati lançou pra mim entre a zagueira e a lateral. Fui carregando a bola, a goleira veio, me fechou, mas eu cortei pro lado direito e foi só correr pro abraço”.

Ao mesmo tempo que atuava nos gramados pela Ferroviária, Barrinha concluiu sua primeira pós graduação, em musculação e qualidade de vida.

No final de 2015, surgiu uma proposta do Corinthians/Audax. “O Artur Elias (hoje técnico do Corinthians) me ligou e fez o convite. Fui pra lá e fomos campeãs da Copa do Brasil, contra o São José”.

Na metade de 2016, Barrinha recebeu uma proposta de Portugal, para atuar no Braga. Géssica, hoje zagueira da Ferroviária, atuava no time português. Mas Barrinha não foi de imediato. “Eu tinha o contrato com o Corinthians/Audax, e eu poderia sair se eu quisesse. Mas seria ruim, porque estava próximo das finais da Copa do Brasil. Eu falei: ‘se vocês quiserem, eu vou no final do ano. Não vou abandonar meu time no meio da temporada’. Meu empresário ficou bravo comigo, até bloqueei ele no celular. Mas ele acabou entendendo e fui para o Braga no final do ano”.

Porém, não ficou muito tempo em solos lusitanos. “O nível do futebol feminino em Portugal não era muito alto. Eu e a Géssica começamos a treinar por fora, principalmente a parte física, porque eles não faziam academia. O time masculino fazia academia e o feminino não, vai entender… Mas não gostavam que treinávamos por fora”.

Em 2017, a então coordenadora do futebol feminino da Ferroviária, Lorena Marche, entrou em contato para “repatriar” Barrinha. Desde então, é titular absoluta das Guerreiras Grenás.

A única pausa foi em 2018, quando ela foi convidada pelo Iranduba-AM para disputar a Libertadores daquele ano. Ela foi emprestada ao time amazonense. “Ficamos em terceiro. Perdemos para o Atlético Huila-COL nos pênaltis”.

Em 2019, Barrinha atingiu a marcada de 100 jogos com a camisa grená. As Guerreiras Grenás tiveram um ano mágico: ficaram entre as quatro melhores equipes do Paulista, foram campeãs do Campeonato Brasileiro e vice-campeãs da Libertadores. Um jogo da Libertadores, realizada no Equador, teve um gostinho especial para a Barrinha: a vitória contra o Atlético Huila-COL, de virada, por 3 a 2, nas quarta de final. “Perdi com o Iranduba, mas com a Ferroviária derrotei elas”.

Com mais de 100 jogos pela Ferroviária, três libertadores no currículo, títulos nacionais e convocações para a Seleção Brasileira, Barrinha ainda sente falta de um título: o paulista. “O único título que eu não tenho é o paulista. Fui campeã catarinense pelo Kindermann-SC, mas o paulista eu ainda não venci. Espero que seja esse ano”.

Já em 2020, Barrinha concluiu sua segunda pós graduação: metodologia da preparação física individualizada personal trainer. Ela fala sobre suas expectativas para este ano. “Espero que consigamos fazer um bom ano. Não sei se vamos ser campeãs, mas queremos estar brigando entre as melhores. Somos uma equipe para bater de frente com qualquer equipe. Queremos chegar fortes no Brasileiro, Paulista e Libertadores. O trabalho é pra isso”, finaliza.
 

 

 

Redação

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