Cresci numa família de três filhos, minha mãe nunca trabalhou fora, fazia a nossa comida e costurava algumas de nossas roupas. Não posso dizer que era uma vida sacrificada. Pelo menos depois que crescemos, minha memória é de que tivemos fartura.
Mas apesar disso, os valores que recebemos não eram materiais. Quando me casei, vieram as nossas filhas. A cada uma que chegava, foram quatro, muitas vezes as pessoas nos olhavam como se não pertencêssemos a esse mundo. Cansei de ouvir a expressão: filhos custam caro!! Mas será?
Hoje, acompanho muitos casais no início de suas jornadas de pais e mães, muitos deles assustados com as ofertas do mundo. Quais são os valores reais de se ter um filho – já pensaram nisso? O que realmente precisamos para criar filhos?
A realidade que encontro é que, se um casal não pode fazer o quarto dos sonhos, comprar o melhor enxoval, a melhor cadeira para o carro, o melhor carrinho e fazer um chá de bebê evento, ele não pode ter filhos. Muitas vezes, escuto mulheres dizendo que só poderão ter um filho, porque os gastos foram muitos, e este ainda nem nasceu.
Como mediadora de um grupo de apoio à gestação e parto, procuro levar os casais a repensarem esses valores. No Grupo Nascer Naturalmente, nós não falamos apenas de gravidez e parto, mas falamos de vida, de criação de filhos, de diminuir a roda viva de consumo. Alguns casais chegam ao grupo ávidos por informações sobre parto e sobre como cuidar do bebê, e se tiverem tempo, o grupo os ajuda a aprender mais do que isso. Aqui, levamos os pais a pensarem sobre o que realmente é importante, o que é essencial.
Sempre digo que para se ter um filho, é preciso amor, bom senso e responsabilidade. Todo o resto é firula. Se voltarmos um pouco no tempo, como era o mundo, como eram os quartos dos bebês, as casas, as roupas. A humanidade chegou até aqui dessa maneira. Essa semana alguém me disse que só o receituário que o pediatra passou no hospital quando o bebê nasceu custou R$500,00. Fiquei pasma. O que será que um recém-nascido precisa que custa assim tão caro.
Comecemos pelas fraldas, a eterna discussão entre descartáveis e ecológicas (diga-se fraldas de pano). Discussão ecológica a parte, o importante é escolher aquilo que seu bolso comporta, e não o que a moda te obriga. Depois, vêm as roupinhas, que os bebês usam por algumas semanas, e depois, já são colocadas de lado porque não servem mais. Será que precisam custar tão caro mesmo? Todos os itens utilizados durante o primeiro ano de vida da criança são itens que se tornam obsoletos para aquela criança. Em doze meses descartamos milhares de fraldas, doamos as roupinhas, carrinho, conchas de amamentação, chupetas, mamadeiras e outras invenções mirabolantes usadas para incentivar o consumismo. Até mesmo para o parto as pessoas acreditam que precisem de muito dinheiro. Não precisa de doula para o parto, nem de um ambiente caro e requintado, precisa apenas de silêncio, paz e simplicidade, basta ver que os bebês nascem onde querem, até mesmo no carro, se assim decidirem.
Quando olho para esse consumismo que a maternidade traz às famílias e em como os casais são levados a crer que ter filhos custa caro, fico pensando em como são enganados pelo mundo. Um filho precisa de amor, precisa de educação, não da escola mais cara, porque ela não será útil se os pais não o educarem em casa.
Ter filhos custa sim, custa nosso tempo, nossa energia criativa, nossa capacidade de amar. Esse custo é compensado quando olhamos para os filhos que criamos e os descobrimos bons, maduros, responsáveis e preocupados com o próximo.