No ano dia 04 de setembro de 2016, comemorou-se 56 anos da visita do filósofo Jean-Paul Sartre à cidade de Araraquara. A vinda de Sartre à Morada do Sol se deu pelo filósofo Fausto Castilho, docente na época da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, hoje FCLar/UNESP, que enviou uma pergunta por intermédio de colegas a ser feita ao filósofo Sartre o qual participava de um congresso literário em Recife. Posteriormente essa indagação, sobre a conciliação do existencialismo e marxismo, foi reforçada por telefone quando Sartre já estava no Rio de Janeiro.
Jean-Paul Sartre e sua companheira que estavam em visita ao Brasil a convite do escritor Jorge Amado, quis responder pessoalmente àquela pergunta e assim, surgiu o pedido de sua vinda à Araraquara para a conferência que mais tarde deu nome ao livro: “Sartre no Brasil: a conferência de Araraquara”. Texto de importância histórica, descreve as preocupações que moviam o filósofo existencialista naquela época, com o testemunho de sua trajetória intelectual e ativista.
A Palestra
A palestra proferida no dia 04 de setembro de 1960, na então Faculdade de Filosofia, hoje atual Casa da Cultura, na sala que posteriormente seria nomeada com o nome do filósofo, teve na plateia aproximadamente 100 pessoas, entre elas Ruth Cardoso, socióloga e ex-primeira-dama, Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente do Brasil; Bento Prado Jr., filósofo da USP, Jorge Nagle, ex-reitor da UNESP, Miriam Moreira Leite, educadora da USP, Dante Moreira Leite, psicólogo, Antonio Candido, professor aposentado de Teoria Literária da USP, Gilda Mello e Souza, ensaísta, professora de Estética da USP, Nilo Scalzo – jornalista, Michel Debrun, francês, professor-visitante da USP, José Celso Martinez Corrêa, dramaturgo, criador do Teatro Oficina, Dante Tringalli, professor aposentado de Latim da UNESP, José Aluysio Reis de Andrade, professor aposentado de Filosofia da UNESP, Jorge Amado, entre outras autoridades.
Nesse mesmo dia, Sartre e Simone tiveram um encontro com estudantes e trabalhadores rurais, no antigo Teatro Municipal da cidade de Araraquara.
Jean-Paul Sartre chegou ao Brasil em 15 de agosto de 1960, acompanhado da escritora Simone de Beauvoir, permanecendo até o dia 1º de novembro daquele ano. Visitou Recife, Bahia, Olinda, Rio de Janeiro, Brasília, Fortaleza, Amazônia, São Paulo e Araraquara, demonstrando sua preocupação e solidariedade com a América Latina.
Em Araraquara a homenagem ao filósofo francês Jean-Paul Sartre, se deu através da Lei Municipal nº 5.673, de 30/08/2001, instituindo o “Dia de Sartre no Município de Araraquara”, a ser comemorado no dia 04 de setembro.
Curiosidade histórica
Nesse mesmo dia, na fonte luminosa, acontecia o Campeonato Paulista e a Ferroviária ganhou de 4 x 0 sobre o poderoso Santos do Pelé e quando Sartre viu os torcedores pelas ruas da cidade comemorando, pensou que aquele tumulto se devia à sua presença.
Quem foi Jean-Paul Sartre?
O filósofo Sartre nasceu em Paris, em 21/06/1905. Órfão de pai, falecido com febre amarela, perto de completar dois anos, mudou-se com sua mãe para a casa dos seus avós maternos em Meudon. O avô, Charles Schweitzer, um professor de alemão, influenciou e despertou o neto à literatura clássica.
Aos doze anos, Sartre mudou-se com sua família para La Rochelle e residiu até os quinze anos. Foi estudar em Paris, no célebre Liceu Henri IV e depois no Liceu Louis le Grand, interessando-se por filosofia.
Em 1924, matriculou-se na Escola Normal Superior, em Paris, por onde formaram-se vários pensadores franceses notáveis, terminando seus estudos em 1929 quando conheceu a escritora Simone de Beauvoir, sua futura companheira. Em 1931 foi nomeado professor de filosofia no Liceu do Havre e de 1933-1934 estudou e viveu em Berlim. Em 1938 publicou seu primeiro romance, A náusea.
Com o início da guerra, Jean-Paul Sartre foi convocado a servir no exército francês como meteorologista. Capturado em 1940 foi enviado pelos alemães a um campo de prisioneiros, onde passou noves meses quando então escreveu e encenou a peça teatral Barionà, fils du tonnerre.
Após ser libertado, voltou à França em 1941 e criou o movimento Socialismo e Liberdade. No ano de 1943, publica O ser e o nada.
Com o fim da guerra, fundou em 1945 a revista Les Temps Modernes, revista mensal, conhecida como “Revista de Sartre”.
Ingressou em 1952 no Partido Comunista Francês, com o qual romperia quatro anos depois. Em 1960, publicou a Crítica da razão dialética, e em 1964 a autobiografia As palavras. Recusou o Prêmio Nobel de Literatura por acreditar que “nenhum escritor pode ser transformado em instituição”.
Além de ter estado no centro de alguns dos movimentos intelectuais e culturais mais importantes da segundo metade do século XX, como o existencialismo, Sartre foi o caso raro de um grande filósofo que era também um grande romancista, e de um grande romancista que era também um grande dramaturgo.
Faleceu em Paris em 15 de abril de 1980.
Veja a chegada de Sartre ao Aeroporto de Congonhas: