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Livro reúne conteúdo raro sobre a história da escravização em Araraquara

Um conteúdo raro, que reúne documentos, fotos e informações sobre o período da escravização em Araraquara. Esse é o conceito do livro “A História Comprovada: fatos reais e as dores da escravização araraquarense”, que será lançado oficialmente no dia 24 de março, uma sexta-feira, às 18h30, no Teatro do Sesc Araraquara (Rua Castro Alves, 1315). A entrada será gratuita para o público, que deve retirar o ingresso na bilheteria do SESC com uma hora de antecedência (limitado a um por pessoa). O evento terá transmissão ao vivo 

pelo canal do Youtube da Prefeitura Municipal de Araraquara e será retransmitido no espaço de convivência da unidade. 
O projeto é realizado pela Prefeitura, por meio do Centro de Referência Afro “Mestre Jorge”, e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Araraquara – 5ª Subseção, contando com o apoio do Sesc, do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros (NEAB) da Uniara, da Academia Araraquarense de Letras, do NUPE- Núcleo Negro da Unesp para Pesquisa em Extensão, da Comissão de Combate à Discriminação Racial da OAB e da Frente Parlamentar Antirracista. A obra, que conta com a organização de Alessandra Laurindo, Claudio Claudino, Edmundo Oliveira, Felipe Oliveira e Fernando Passos, traz prefácios de instituições e pessoas comprometidas com o combate ao racismo, como o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda; o professor Dr. da Unesp Araraquara, Dagoberto José Fonseca; além do Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo, Defensoria Pública, Fórum Trabalhista de Araraquara e outras organizações.   
O conteúdo
  
O livro reúne mais de 500 páginas digitalizadas de escrituras de compra e venda de escravizados em Araraquara no final do século 19, entre os anos de 1874 e 1887, que estavam arquivadas em cartório. Em 1890, pouco tempo após a abolição, o então Ministro de Estado, Rui Barbosa, determinou que fossem queimados todos os documentos relacionados à escravização no Brasil, restando poucas cidades que mantiveram os livros dos tabelionatos intactos, contrariando sua ordem. Após inúmeras tentativas e mediante autorização do Juiz-Corregedor Permanente do 1º Tabelião de Araraquara, as cópias digitalizadas dessas escrituras foram liberadas para a 5ª Subseção da OAB/SP e sua Comissão de Combate à Discriminação Racial.  
  
A publicação desse conteúdo foi autorizada pelo Juiz-Corregedor Permanente da Serventia Extrajudicial e expõe a realidade sobre a época da escravatura no Brasil e a realização de estudos sobre o período, além de possibilitar que descendentes de escravizados tenham acesso à verdade sobre as histórias de suas famílias. A inclusão dos prefácios, por sua vez, permite que as entidades e pessoas envolvidas com a temática manifestem, sob sua ótica, a importância do livro na luta contra o racismo.  
União de esforços
A coordenadora de Políticas Étnico-Raciais, Alessandra Laurindo, falou sobre a importância da divulgação desse material. “O lançamento deste livro é muito simbólico e representativo, pois trará a oportunidade de comprovar uma história que ouvimos de alguma forma falarem, mas não tínhamos provas reais. São relatos dolorosos de compra e venda de escravizados como peças, mercadorias ocorridas em Araraquara e região. O evento é fruto de uma construção coletiva com pessoas e instituições que enfrentam e combatem o racismo e acreditam numa cidade mais justa e equânime”, salientou.
Felipe José Maurício de Oliveira, presidente da OAB Araraquara, falou sobre as dificuldades para se obter o material que compõe a publicação. “Esse livro é uma obra maravilhosa que compila as escrituras da época da escravização em Araraquara, que por mais de um século se manteve dentro do cartório, do Primeiro Tabelião. Depois de muita luta, muita persistência, as entidades e as frentes que lutaram para obter esses documentos conseguiram primeiramente tirar do cartório e extrair uma cópia, e em um segundo momento também conseguiram a autorização do juiz corregedor para que fosse feita a divulgação”, relatou.

Ele destacou também a união de esforços para a conclusão da obra. “Com esses documentos em mãos, foi idealizado o projeto de se lançar o livro, obra na qual participaram várias autoridades, pessoas que lutam na frente de combate ao racismo, vários órgãos públicos, enfim, foi uma união tão bonita de forças, de vários lados para que pudéssemos trazer essa obra pública. Tenho certeza de que ela é um material primário de muito valor e não tenho a menor dúvida de que será utilizada para muita pesquisa. E eu também acredito que ela vai ser a fagulha inicial para que outras cidades onde também houve resistência e queima dos livros, como ocorreu em Araraquara, também adotem essa medida de buscar os livros. Inclusive também disponibilizamos no livro os modelos dos ofícios que a OAB utilizou para extrair o material, para que outras cidades do Brasil possam fazer seus requerimentos e trazer cada vez mais conteúdo para conhecermos nossa história e para que as pessoas também conheçam sua ancestralidade”, completou. 
21 Dias de Ativismo contra o Racismo

Vale destacar que o lançamento do livro “A História Comprovada: fatos reais e as dores da escravização araraquarense” itegra a programação dos “21 Dias de Ativismo contra o Racismo”, campanha que existe desde 2017 e funciona como uma grande agenda antirracista, onde movimentos sociais, coletivos, figuras públicas e pessoas independentes podem propor diversas atividades que pautem o debate pelo fim da discriminação racial.

PROGRAMAÇÃO – ’21 Dias de Ativismo contra o Racismo’

14/03 – 07h30 – Letramento Racial – DAAE

14/03 – 18h30 – Homenagens à Marielle Franco, Abdias do Nascimento e Carolina Maria de Jesus – SARAU – Parceria com o CRM e Coletivo Cadê Tereza – Local: Centro de Referência da Mulher

15/03 – 09h – Letramento Racial para os usuários do Bolsa Cidadania – Local: Biblioteca Municipal

16/03 – 14h – Letramento Racial para os usuários do Bolsa Cidadania – Local: Biblioteca Municipal

16/03 – 18h30 – Exibição do Curta Metragem O CASACO e Roda de Conversa, Parceria com Posto de Atendimento do Selmi Dei, Grupo Ame-A e Associação Mães do SEL. Homenagens à Claudia Ferreira e às vítimas da violência do Estado

21/03 – 17h30 – Dia Internacional de luta pela Eliminação da Discriminação Racial, Dia Nacional do Candomblé. Celebração das Tradições de Matriz Africana – Caminhada com religiosos
Trajeto: Câmara Municipal e à Praça Santa Cruz

24/03 – 18h30 – Lançamento do livro “A história Comprovada: fatos reais e as dores da escravização araraquarense” (as histórias que Rui Barbosa não queimou): Parceria com Ordem dos Advogados do Brasil – 5ª Subseção, Sesc, Uniara e Academia Araraquarense de Letras. Local: SESC

25/03 – 09h – Oficina com o Grupo Ilú Oba de Min – Evento em Parceria com o SESC, Centro de Referência da Mulher, Secretaria de Cultura e Academia Zamba Bem. Local: Centro de Referência da Mulher

Redação

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