Soube da morte do Walter Izidoro, conhecido comerciante de Boa Esperança do Sul, minha cidade. Além de me entristecer, a notícia trouxe à tona uma dívida de gratidão que nunca havia tornado pública em relação ao Walter, a quem permito chamar de amigo.
Há mais de 20 anos, Walter foi um dos responsáveis pelo meu início no rádio. Explico: quem me apresentou ao microfone pela primeira vez foi Cido Ramos, comunicador que comandava o Tarde Sertaneja, programa líder em audiência na extinta rádio comunitária (recuso o rótulo de pirata) SP Central, a primeira daquele município. Eu tinha apenas 11 anos de idade.
Walter era o “dono” do horário. Pelo que minha memória permite recordar, havia alguns sócios responsáveis pelos compromissos financeiros com a emissora, numa espécie de arrendamento dos espaços. Cido Ramos me queria como coadjuvante do programa, mas qualquer decisão teria que ser aprovada pelo sócio. Walter não se opôs que aquele menino que sequer havia engrossado a voz fosse integrado à equipe.
Dele recebi palavras de incentivo fundamentais para que eu levasse o projeto de ser radialista a sério. Foi num papel datilografado em poucas linhas, que guardei comigo por muitos ano e que, infelizmente, não tenho mais, que ele certa vez me escreveu: “Talento é moeda de ouro. Em todo lugar tem valor”. Como esquecer tamanha generosidade?!
Após minha primeira participação oficial no programa, num dia qualquer daquele fim de março, ele nos recebeu em sua casa, serviu-nos uma costela assada acompanhada de uma Coca-cola bem gelada. Disse que tinha me ouvido e perguntou se eu gostaria de continuar. Lembro-me de titubear na resposta. “Se der certo, ué, quem sabe”. Naquele dia, mal imaginando a oportunidade que se abria, pensava mais na incompatibilidade de horário com meu treino de futebol.
Deu certo, amigo Walter. Deu certo! Fiz do rádio uma profissão que já dura mais de duas décadas. Você deixaria o programa poucas semanas depois e seguiu com êxito outros negócios. Tenho a impressão de que nunca mais (ou poucas vezes) voltamos a nos falar, por absoluta falta de oportunidade. Perdi a chance de expressar minha gratidão.
Pelos caminhos da vida, comprovei o que você um dia me disse. Talento é moeda de ouro, mas reconhecer a pedra bruta, lapidá-las e abrir oportunidades, ah.. isso é diamante!