Tirem as crianças de perto do computador para lerem esse texto, pois definitivamente trataremos de coisas que nossos pequenos não podem ouvir. Desde o nascimento de meu primeiro filho percebi que assuntos que causam constrangimento para as crianças são, essencialmente, contrários ao que acreditamos de melhor para as pessoas e à sociedade. Pois bem, o que quero falar hoje é sobre os sucessíveis atos de indecência e promiscuidade política praticados ora pelo próprio Presidente da República, ora pelos seus comandados,seja do Governo Federal ou do Congresso Nacional.
Na última coluna dialogamos sobre a importância da transparência e da participação e controle social nas discussões e decisões da Administração Pública, em específico falamos do Orçamento Participativo e da JARI de Araraquara. Dias depois, o Presidente da República, incomodado que a sociedade brasileira estava tendo ciência das visitas que recebia em sua casa, decidiu, de maneira hilária se não fosse trágica, construir um “corredor verde” com várias espécies da nossa flora – lindas por sinal – e, dessa forma, obstruindo o trabalho dos repórteres que registravam seus encontros públicos. Algumas semanas depois, para coibir novas gravações de áudio de suas reuniões, como fez o Joesley da Friboi, Temer mandou implantar um “misturador de voz” na sala presidencial do Planalto, no momento em que todas as suas conversas oficiais deveriam ser de conhecimento público.
Não contente e em seguida, o Presidente, pessoalmente, começou a achacar partidos e líderes políticos sobre o apoio às denúncias contra ele que prosperavam dentro da Câmara Federal.Deputados, antes aliados, denunciaram que foram autoritariamente destituídos de suas responsabilidades na Comissão de Constituição e Justiça, porque Temer ameaçava retirar os cargos do governo federal que seus partidos tinham. O deputado Carlos Marun, PMDB de Mato Grosso do Sul eum dos líderes desse governo, em entrevista a um jornal de âmbito nacional, pasmem, assumiu que essa era a tática do Governo Temer. Pior ainda foi o Presidente afirmar, que assim, seu Governo era um semiparlamentarismo. Caro presidente, seu Governo não é semi nada, é inteiramente indecente.
Pensando que não poderíamos, enquanto nação, afundar ainda mais na desconstrução dos nossos valores democráticos e republicanos, Temer, ainda preocupado com as denúncias que irão à plenário da Câmara, liberou bilhões de reais em emendas parlamentares. Tudo isso, em plena crise econômica, que ele mesmo propaga como justificativa para aprovação de medidas impiedosas contra a parcela trabalhadora de nosso povo, como o aumento de R$ 0,41 nos combustíveis, teto dos gatos públicos, reforma trabalhista e da previdência. Crise quem vive realmente é a “casta” política brasileira, crise moral, ética, política e humana.
Afinal, temos mesmo de tratar isso longe de nossas crianças, porque serão elas os futuros homens e mulheres públicos desse país. Serão esses os responsáveis, para quem sabe, numa transformação geracional modificar as práticas políticas e desenvolver algo mais decoroso. Agora, de forma drástica, precisamos todos sim assumir que o Governo Temer é indecente na forma e promiscuo na conduta, não há mais espaço para meias palavras, muito menos para os que apoiam as suas reformas, pois o caminho não pode ser esse. E para aqueles, oportunista e descompromissados, que aceitam tal jogatina, indecência e promiscuidade é preciso ter tal firmeza da sociedade, já que não podemos definir o Governo Temer como algo hediondo sem que estes, que recebem emendas parlamentares nessas condições, por exemplo, também sejam.