Antes de falar sobre sua carreira profissional, o fotógrafo reflete a respeito de sua vida. Na infância, foi um incompreendido, parte de uma sociedade em que as perguntas e os questionamentos não eram bem-vindos. Ao contrário de outras pessoas da mesma faixa etária, desagradava seus professores, pois não fazia o que mandavam.
Tais reflexões são da autoria de Chas Garretsen, responsável por registrar bastidores e cenas de Apocalypse Now. Além de seu testemunho, imagens inéditas estão no documentário Dutch Angle: fotografando Apocalypse Now. Anteriormente, ele havia fotografado a guerra do Vietnã in loco, o que lhe rendeu bagagem curricular mais do que suficiente para trabalhar dentro da loucura de Francis Ford Coppola.
Embora Coppola tenha filmado muitas vezes na base da intuição artística, o fotógrafo holandês sabia o que estava fazendo. Seu plano era montar sua própria sequência de imagens, mostrando outra perspectiva da mesma história, já que boa parte de suas fotos não dizem respeito a cenas que permaneceram até a edição final. Aqueles que tomarem contato com seus recortes conhecerão outras linhas narrativas, fragmentos que contribuem para o enriquecimento da fábula original.
Garretsen diz ser alguém que não deseja atingir a perfeição. Apenas pratica o máximo que pode seu ofício. Busca melhorar a cada dia porque gosta daquilo que faz. Para isso, não há outro caminho senão praticar, comemorando a cada pequena melhora do enquadramento. É indescritível a alegria de saber que aquela válvula esteve ali o tempo todo, mas nunca seria descoberta sem trabalho.
Em um congresso, João Ubaldo Ribeiro disse que, todos os dias, se levantava às quatro da manhã, regava suas plantas e começava a escrever. Não importava se era um ensaio, uma crônica ou um romance. O autor de O albatroz azul colocava a si próprio uma quantidade mínima de palavras. Boas ou ruins, elas tinham que ir para a tela do computador.
Os hábitos do escritor brasileiro e do fotógrafo holandês talvez sejam semelhantes nesse sentido. Para atingir algo próximo da perfeição, não há outro caminho que não seja o do trabalho. No fazer artístico, esse processo pode ser chamado de prática de estilo.