Lembro-me de ter escrito há algum tempo um texto de lamentação sobre o fechamento do Cine Lupo. A notícia provocou uma comoção na ocasião, mas o desfecho não chegou a se concretizar. Um empresário se interessou pelo negócio e manteve as salas do modesto shopping da região central de Araraquara em pleno funcionamento.
O fato é que, desde então, tratei de intensificar minha assiduidade ao local. Tal tarefa não exigiu da minha parte nenhum esforço: qualquer pessoa interessada numa programação que não atenda somente os fãs das franquias de super-heróis tem no Cine Lupo sua única opção.
Os administradores do espaço enxergaram essa lacuna da programação e encontraram um bom filão. Não estou certo sobre a resposta do público, nem se a receita é suficiente para a manutenção desse atrativo (até tenho a impressão que o público aumentou se comparado ao período de quase fechamento), mas o fato é: para quem gosta do bom cinema, o Cine Lupo é uma excelente opção.
Desde o início do ano, o público pôde conferir praticamente todos os filmes da “temporada de premiações”: Vice, Nasce Uma Estrela, Green Book, Infiltrado na Klan e A Favorita, por exemplo, estrearam praticamente ao mesmo tempo. A vantagem é que o cinema faz promoção nos preços de segunda à quarta-feira, e a pipoca também não é tão cara.
Foi ali que assisti preciosidades como Cafarnaum, uma das minhas melhores experiências cinematográficas recentemente, além do belíssimo Guerra Fria. Depois, teve o novo Tarantino, Clint Eastwood e Almodóvar. Foi ali que o público de Araraquara também assistiu o fortíssimo sul-coreano Parasita – crítica social das mais agudas, brilhantemente dirigido e carregado de suspense.
O filme sensação do ano, Bacurau, também passou pelo Cine Lupo. Foram sessões apoteóticas. Na que eu estava, o público aplaudiu assim que os créditos começaram a subir. Soube que isso se repetiu em outras sessões.
O Cine Lupo é hoje a casa do cinéfilo araraquarense. Que o público saiba corresponder o esforço e o cuidado dos responsáveis em ofertar uma programação de qualidade numa era em que os blockbusters dominam as salas de todo o mundo e os serviços on demand também concorrem para que a gente fique em casa. Vida longa ao Cine Lupo! O bom cinema agradece.