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Entre recursos e promessas

No Brasil, muito recurso e pouco compromisso com prazos são características de toda e qualquer obra pública. À quem esse esquema serve?

Em 2006, o então presidente Lula estava em plena campanha pela reeleição quando, num comício na Praça Pedro de Toledo, em Araraquara, acenou ao então prefeito Edinho Silva, seu colega de partido já em seu segundo mandato, que conhecia o antigo sonho de Araraquara de retirar os trilhos da região central da cidade. Disse que se empenharia pessoalmente na liberação dos recursos.

Lula ganhou mais um mandato e, no ano seguinte, seu governo autorizou a obra. Araraquara completava, então, 190 anos. Lembro-se de uma chamada divulgada em vários meios de comunicação em que a prefeitura alardeava que o antigo sonho, de unir as metades historicamente separadas pela linha férrea, seria uma só. “Araraquara 190 anos. Minha morada é aqui” era a frase que encerrava a peça publicitária.

Dez anos depois, quando Araraquara completa 200 de emancipação, o contorno ferroviário está, segundo consta, em pleno funcionamento, mas a cidade permanece dividida. A frustração é explicada pelo fato de que as composições não cortam mais a cidade, mas as oficinas de manutenção continuam no mesmíssimo lugar. É por isso que os trens ainda convivem com casas, ruas e avenidas, dividem a cidade e impedem as obras que poderiam dar à Morada do Sol a integração definitiva e deixar a polarizaçao Vila x Cidade apenas nos livros de História e na memória dos araraquarenses.

A situação, no entanto, ainda é expectativa. Lula prometeu, a prefeitura alardeou, mas o compasso de espera permanece. É preciso mais algumas dezenas de milhões para a construção de uma nova oficina. Com o cenário de crise e instabilidade política, somente os mais inocentes acreditarão que a situação será brevemente resolvida.

Toda essa situação me leva a pensar na falta de planejamento na execução de obras públicas. Em praticamente tudo o que envolve dinheiro público, ou o orçamento estoura e os cofres despejam aditivos (ou seja, mais dinheiro do que o programado) ou em prazos absurdamente estourados. Não raro o resultado é a combinação das duas coisas.

De supetão cito o palco sobre a represa do Parque Pinheirinho. Custou R$ 1 milhão, demorou anos para ser concluído, teve a inauguração adiada inúmeras vezes e não serve para absolutamente nada. Outro exemplo: a PEC (Praça de Esportes e Cultura) do Jardim Indaiá, que leva o nome da ex-vereadora Deodata do Amaral. Foram vários anos para que a obra estivesse, enfim, disponível para os moradores. Boa parte do que foi prometido jamais saiu do papel.

Dizsem os engenheiros que tudo isso seria menos danoso se as três esferas do Poder Público exigissem o chamado Projeto Executivo. Na iniciativa privada, nada é aprovado sem o referido documento. Dizem até que é uma aberração à moda brasileira, feita para que os canalhas de sempre (construtoras, políticos mal intencionados, etc) reinem à vontade em meio aos recursos públicos e interesses políticos envolvidos nessas obras.

Seja qual for a explicação técnica pra isso (se é que existe alguma), o Brasil precisa, se quiser moralizar suas ações, tratar o dinheiro público com mais respeito.

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