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Chegou a vez do Cine Lupo

"Muita gente foi para a timeline lamentar o fim do cinema mais old school de Araraquara. Mas quantas dessas pessoas estavam contribuindo para que ele não falisse?"

Há mais ou menos dois anos, quando a Cosac Naify anunciou que encerraria suas atividades, houve grande comoção. Em entrevista concedida à revista Piauí, o dono da editora, Charles Cosac, afirmou que as pessoas não estavam comprando livros e nada poderia ser feito se, após o anúncio do fechamento, as vendas aumentaram substancialmente.

Foi mais ou menos isso o que aconteceu no último fim de semana, com o adeus do Cine Lupo. O motivo: o público, há bastante tempo, minguava. Muita gente foi para a timeline lamentar o fim do cinema mais old school de Araraquara. Mas quantas dessas pessoas estavam contribuindo para que ele não falisse? Particularmente, tive que fazer um esforço para lembrar a última vez em que estive lá – foi para ver Dunkirk, há uns quatro meses, o que já faz um bocado de tempo. Acho bizarro isso. Ficamos tristes por algo que ajudamos a destruir. De fato, pouca coisa faz sentido nessa vida.

Não adianta. Os torrents e os serviços de streaming fizeram com que preferíssemos ver um filme em casa – não vou nem entrar nos méritos da ilegalidade quando abdicamos de pagar para consumir um produto cultural. Vivemos em tempos individualistas (sim, mais um clichê). Sair de casa pra quê, se temos tudo à disposição com apenas um clique?

Alguns dirão que ainda há o Moviecom Jaraguá. Com todo o respeito ao estabelecimento, não é a mesma coisa. Vejo aquele espaço como um ponto de encontro para pessoas com menos idade que eu (e olhe que nem sou tão velho assim), além de sempre haver poucas alternativas que não sejam as franquias, os filmes dublados e as exibições em 3D (ainda prefiro o jeito convencional).

Não vou (não quero) cair na armadilha do saudosismo. Mas, depois das videolocadoras, parece que chegou a vez dos cinemas tombarem. Como não tive muitas experiências alugando filmes (não tínhamos videocassete em casa), o fim do Cine Lupo me fez pensar nas bancas de jornal e revistas. Araraquara é uma cidade que até possui grande diversidade nesse quesito. É só caminhar pelos arredores da prefeitura para perceber isso. Entretanto, a banca que mais fez parte de outros tempos da minha vida foi a da rodoviária, aquela que ficava no saguão de entrada, na parte de cima, uma ilha amarela de concreto. Hoje, há um espaço vazio ali. Ninguém mais precisa procurar algo para ler enquanto espera seu ônibus. As redes sociais disponíveis no celular são o principal atrativo para quem passará por minutos ou horas ociosas. Logo, as do centro também perderão sua utilidade. O papel não servirá nem pra embrulhar peixe.

Assim como o amigo Luis Antônio (foi por ele que fiquei sabendo, na noite de sábado, que o Cine Lupo faria suas últimas sessões no dia seguinte), vi os principais cinemas de Araraquara morrerem. Minha primeira experiência com a telona foi no Cine Veneza, há mais de vinte anos, com Space Jam. Sempre monitorado pela tia Sílvia (a única das tias que gosta de cinema), frequentei também o Cine Capri e o Cine Tropical. Parafraseando o Luis, todos eles entraram para a história.

Chegou a vez do Lupo.

Murilo Reis

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