No dia em que foram entregues mais 754 moradias do Programa Minha Casa Minha Vida, a presidente Dilma Rousseff concedeu uma entrevista ao Jornal da Morada e Portal Morada. Direto do Palácio do Planalto, antes de embarcar com destino a Catanduva, onde também entrega um conjunto habitacional para 1.237 famílias, a presidente falou sobre o programa de moradias populares e o impacto das novas construções nos serviços públicos. Crítica recorrente em Araraquara, milhares de moradores têm sobrecarregado os equipamentos (creches, postos de saúde e transporte coletivo) já existentes, Dilma disse que a prefeitura é responsável pela implantação da rede de atendimento. “No Residencial Vale Verde, o município se comprometeu a aumentar a frota de ônibus e atender a população com creches, postos de saúde, enquanto eram construídos equipamentos nas proximidades”, declarou a presidente.
Em tempos de crise, economia foi outro tema que mereceu atenção da presidente durante a entrevista. A queda da bolsa na China, segundo Dilma, pode prolongar a crise no Brasil. Por isso, a presidente sinalizou um tom mais cauteloso com a perspectiva econômica. “Eu espero uma situação melhor, mas não tenho como te garantir que em 2016 a situação será maravilhosa.”
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista:
Portal Morada – Com esses novos conjuntos, Araraquara totalizará cerca de 4 mil moradias, das quais a maioria está localizada na mesma região da cidade. Entretanto, nenhuma nova creche, escola, posto de saúde ou área de lazer foi construída no local, o que sobrecarrega os serviços públicos já existentes. Essa situação é apontada como uma falha do projeto. Como a senhora recebe essa crítica? É possível rever a infraestrutura em futuras etapas do programa?
Presidente Dilma – No Minha Casa Minha Vida a decisão de onde construir as moradias é sempre tomada em conjunto com a prefeitura. Em Araraquara, entregamos 6800. As regras do programa exigem que se não houver serviços públicos suficientes no empreendimento, a prefeitura deve providenciá-los. Não há essa falha no projeto. Isso é parte integrante do programa.
No Residencial Vale Verde, o município se comprometeu a aumentar a frota de ônibus e atender a população com creches, postos de saúde, enquanto eram construídos equipamentos nas proximidades. Temos a informação de que a prefeitura e a empresa de transporte podem iniciar a operação no entorno. Após algumas dificuldades, a prefeitura vai conseguir contratar a construtora para fazer as creches e escolas.
Em Catanduva, no empreendimento que vamos inaugurar, já foi construída uma escola e um posto de saúde. Essa é a regra. Sempre passa por aprimoramentos, então se alguém tiver sugestões para melhorar, estamos abertos a sugestões no Minha Casa minha vida.
Portal Morada – Além das milhares de moradias do programa Minha Casa Minha Vida, a região tem recebido inúmeros investimentos do Governo Federal. Mesmo assim, a aprovação ao governo é baixa. Essa situação pode ser atribuída a crise política e econômica que o país enfrenta?
Presidente Dilma – É verdade que vivemos um momento de dificuldades, quando precisamos fazer ajustes na economia, é também razoável e esperado que as pessoas se sintam inseguras. Isso não pode se transformar em pessimismo. A inflação cresceu, mas a boa notícia é que ela começa a cair. Nossa ideia é que as dificuldades sejam superadas o mais rápido possível.
Quanto mais pessimismo houver, mais longa será a travessia, e ela não é passada só pelo Brasil, ontem foi a “segunda-feira negra”, os mercados chineses dissolveram. Aqui as pessoas estão preocupadas com emprego. Para criar uma proteção, criamos um programa com ajuda das empresas e do governo, para que não demitam seus trabalhadores. Pagamos uma parte do salário e há uma redução da jornada. (…)
Portal Morada – Como o governo reage a situação da economia?
Presidente Dilma – A economia do Brasil é forte. Somos prudentes e tivemos percepção de que havia uma deterioração do quadro internacional. Acredito que nossas medidas já começaram, não tem como estarmos pior no futuro.
Tínhamos um câmbio ultra valorizado. Se o real valorizado é bom pras pessoas viajarem, ele é péssimo pra indústria. A desvalorização da moeda tem um efeito nocivo, mas tem outro efeito que facilita exportação. Estamos fazendo um programa agressivo de exportação. Fizemos acordos com Estados Unidos, Alemanha, União Européia.
Fizemos um programa de concessão para investir em parceria no setor privado, ferrovias e rodovias. Gera emprego, ajuda no crescimento do país. Fizemos em valores bastante significativos. Fizemos um programa de energia, e aí interessa pra essa região, de investimento em energia, privilegiando biomassa, a grande riqueza junto com o etanol e fizemos um grande programa de safra, e em um ano de dificuldades. Então é uma situação que requer cuidados, requer que façamos controles de gastos, mas nós não estamos parados, tomamos todas as medidas.
Eu espero uma situação melhor, não tenho como te garantir que em 2016 a situação será maravilhosa, não será a dificuldade imensa que todos pintam, não sabemos a repercussão disso.
Portal Morada – Historicamente, o interior de São Paulo, especialmente a macrorregião, sofre com os altos e baixos da monocultura. Foi assim com o café e com a laranja, por exemplo. Atualmente, o setor sucroalcooleiro não passa por um bom momento. É possível conseguir um equilíbrio nesse cenário de monocultura e recuperar o setor sucroalcooleiro no curto prazo? O que o governo federal pode fazer para ajudar esse setor?
Presidente Dilma – Meu governo tem incentivado e vai continuar incentivando o setor sucroalcooleiro. Etanol, açúcar e biomassa formam um conjunto dos mais eficientes de produção de energia, no sentido de geração de combustível e de eletricidade, assim como de energia em função do açúcar. O açúcar e um grande energético.
Em março desse ano, uma das medidas de incentivo foi o aumento do percentual de mistura do etanol anidro a gasolina, para até 27,5%. Isso ‘e importante porque ampliar a demanda por etanol, já que toda a nossa frota consome essa mistura.
Alem disso, garantimos crédito em condições favoráveis pro setor. No Plano Agrícola e Pecuária 2015/2016, n’os garantimos linhas de crédito bastante favoráveis. Outra coisa ‘e que o programa de apoio do BNDES, Pro Renova, financia a renovação de canaviais antigos, que são menos produtivos e menos rentáveis. Nos últimos dois anos, conseguimos assegurar mais de R$ 3 bilhões nesse programa.
O governo criou também um programa de estocagem para reduzir as oscilações do preço – também mais de R$ 3 bilhões nos últimos dois anos. Além disso, concedemos incentivos tributários que vão durar até 2016.
Nós estamos apoiando no âmbito do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a construção do sistema logístico de etanol no trecho Paulínia, Ribeirão Preto e Uberaba. Esse “etanolduto” promove a integração de dutos, terminais e hidrovias por meio de uma malha intermodal que passará por 45 municípios no trecho Paulínia, Ribeirão Preto e Uberaba, que já esta em funcionamento, com grande ganho ambiental e econômico. É nossa tarefa apoiar o setor produtivo.
Não podemos olhar o etanol como sendo uma lavoura, mas como sendo um segmento do setor de energia. Em São Paulo, eu estive em uma unidade de produção de etanol de segunda geração que produz com base na palha e na vinhaça, e exporta pra Holanda com preços elevados. Então eu acho que não posso olhar o setor de etanol com sendo do setor agrícola pura e simplesmente.