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Militância LGBT

"Ser militante é não esperar que a maré mude a nosso favor, mas nadá-la. Não há uma forma ou fórmula. Basta que cada um faça sua parte, do seu jeito."

Até a década de 1970, ser gay não era motivo de orgulho nem mesmo para os homossexuais. Até o ano de 1969 tudo era feito na penumbra, pois os LGBTs evitavam qualquer exposição pública da sua sexualidade. Mas a situação mudou após o episódio Stonewall quando, em 28 de junho de 1969, LGBTs e a polícia de Nova Iorque entraram em um conflito que durou vários dias. A chamada, por alguns, rebelião aconteceu no bar Stonewall Inn e nas ruas próximas e é largamente reconhecida como o evento catalisador dos modernos movimentos em defesa dos direitos civis LGBT.

Stonewall foi um marco por ter sido a primeira vez que um grande número do público LGBT se juntou para resistir aos maus tratos da polícia para com a sua comunidade e é hoje considerado como o evento que deu origem aos movimentos de celebração do orgulho gay. A partir daí nasceram as paradas, as entidades LGBTs, a discussão acerca dos direitos civis negados a essa parcela da população e muitas conquistas foram alcançadas em diversas partes do mundo.

Até mesmo no Brasil, que caminha a passos de lesma, alguns avanços já foram alcançados pela ‘causa LGBT’. Enfim, foi a partir de Stonewall nasceu a chamada ‘militância gay’, aliás, foi justamente por causa dessa militância que conseguimos melhorar bastante nossa realidade, apesar de toda a resistência e preconceitos que enfrentamos diariamente por parte da sociedade, da religião, da política e da justiça. Conseguimos isso porque há anos milhares de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros têm ido às ruas, dado a cara à tapa e gritado por respeito, liberdade, tolerância e direitos civis.

Mas se a realidade LGBT mudou nesses quase 42 anos pós-Stonewall, era de se esperar que a militância também sofresse suas modificações. Deixemos de lado as questões políticas imbricadas e foquemos na forma como os gays vêem ‘o movimento’. Não falta quem diga que a militância gay mais atrapalha que ajuda ou que isso é coisa de ‘bicha velha’, pois as novas gerações não se importam mais com isso de ‘luta pelos direitos’ ou que ninguém mais liga para essas questões de ‘homofobia não’ ou que as paradas são um tiro no pé do movimento. E não faltam matérias na mídia em geral reforçando a ideia da militância como coisa ultrapassada. Como se militar fosse algo pejorativo.

Sim, de fato a militância é coisa de 'bicha velha', afinal, ela começou nos anos 1970, então os veteranos de Stonewall já estão bem cacuras, mas só por isso. Também é verdade que parte dos jovens gays não tem interesse em sair às ruas protestando contra a discriminação que a baquiosa da boate sofreu no bar da esquina, assim como nem todo jovem vai às ruas por mais policiamento. E eles não estão necessariamente certos ou errados, estão apenas deixando, de certa forma, que outros decidam por eles.

Mas o que poucas pessoas lembram é que existem inúmeras formas de lutar contra a discriminação e muitas vezes o fazemos sem sequer notar. No exato momento em que um adolescente sai do armário e ‘choca’ a sociedade com seu jeito afeminado, não se importando com as piadinhas que fazem dele na rua, ele está defendendo seu direito de se expressar como é de verdade. Gay. Seja mais afeminada ou mais ‘discreta’, quando a homossexualidade é posta para fora do armário ela está se fazendo ver.

No exato momento em que dois caras andam de mãos dadas, abraçados ou se beijam no shopping eles estão mostrando que o amor é algo natural e que se a pessoa amada é outro homem ou outra mulher, bem isso é apenas um detalhe. O mais importante é que ele ama e não tem vergonha ou medo de expor isso.

Fazer-se notar. Essa é a questão. Não era isso que as 'bichas velhas' de 1970 queriam? Que todos as vissem de verdade, que percebessem que sua existência, as necessidades diferentes das da maioria da sociedade, os direitos cerceados? Ir às ruas, empunhar bandeiras, gritar palavras de ordem é extremamente importante, pois é uma forma de chamar atenção para a luta, de pressionar, de mais visibilidade à causa gay. Ir ás ruas sempre foi a grande solução para as situações em que direitos não estavam/estão sendo respeitados, mas tão importante quanto é ser gay em sua plenitude, ou seja, vivenciar sua sexualidade sem reservas.

Ser militante é não esperar que a maré mude a nosso favor, mas nadá-la. Não há uma forma ou fórmula. Basta que cada um faça sua parte, do seu jeito. O que não se pode fazer é abrir mão de conquistar aquilo a que temos direito. Seja nas paradas gays, nos blogs, na divulgação de notícias relacionadas à luta pelo pleno exercício dos nossos direitos de cidadãos, seja apenas dando baque pelas ruas, o mais importante é ter orgulho de ser gay e não ter medo de mostrar isso e de apoiarmos uns aos outros sempre.

 

*Informações extraídas do Blog O Liquidificador

Paulo Tetti

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