Mais um paciente vivendo com HIV/aids em situação crítica morreu na manhã desta sexta-feira (17). O fato ocorreu em Araraquara e foi denunciado durante reunião do Foaesp (Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo). Segundo o ativista Alberto Carlos, da RNP+ Sol, uma jovem de 24 anos, mãe de quatro filhos, abandonada pela família e pelo estado, teve seu corpo tomado por feridas e, sem atendimento, não resistiu.
Alberto contou que a luta para dar à jovem “uma morte digna” começou no início desta semana. “Um cidadão do bairro Jardim das Hortências nos procurou e pediu ajuda para que ela fosse encaminhada para um serviço especializado. Fomos até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) saber o que estava acontecendo. Lá, tivemos de usar máscara para chegar perto da paciente. Seu corpo cheirava muito mal, ela já estava com transtornos e inconsciente”, contou o ativista. “A enfermeira da UPA nos garantiu que o local prestou todos os atendimentos possíveis, mas estava com dificuldade de conseguir uma vaga para internação no serviço especializado, via CROSS (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde). A UPA não tem estrutura para internação, ela não poderia permanecer lá, no último mês, já tinha sido internada por oito dias nesta unidade.”
O ativista decidiu, então, procurar ajuda em outras instâncias e enviou e-mail para o GVE (Grupo de Vigilância Epidemiológica) de Araraquara falando sobre a urgência. A equipe do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo também foi avisada e, segundo ele, depois de muita burocracia a jovem conseguiu a internação.
“Já era tarde. Ela morreu enquanto eu vinha para esta reunião falar sobre minhas angústias com este descaso. Meu companheiro está lá (em Araraquara) tentando pelo menos fazer com que ela tenha um enterro digno”, desabafou Alberto. “Estou indignado, revoltado, é muito descaso para com a saúde pública. O Programa de Aids de São Paulo nos garantiu que a Aids não seria tratada nos serviços básicos e não é o que vem acontecendo no interior. Ficamos sabendo lá na ONG que a equipe do Programa Saúde da Família foi avisada sobre o caso e até o médico negou ajuda. Nossos pacientes estão sendo assistidos por essas equipes. Essa morte poderia sim ter sido evitada.”
“Vamos levar esses casos para o Conselho Estadual de Saúde. Precisamos de uma pauta com o secretário de Saúde de São Paulo (David Uip), não podemos mais aceitar essa situação”, garantiu o presidente do Fórum, Rodrigo Pinheiro. Segundo Alberto, a RNP+Sol vai entrar na Justiça contra o Programa Saúde da Família e a GVE.
O ativista contou ainda que há outras duas pessoas vivendo com HIV em situação crítica em Araraquara. “Se algo não foi feito rápido, elas também virão a óbito”.
Informações: Agência de Notícias da AIDS