Como a sociedade é um organismo vivo que como o corpo humano sofre alterações constantes de saúde e humor, vale afirmar que hoje nossa sociedade sofre de variações bruscas de humor e saúde.
No geral hiporresponsiva, não responde a alguns estímulos importantes, deixando de reagir a ações nocivas ao bom convívio humano, por outro lado, na sua fase hiper-responsiva, o mínimo estímulo pode provocar reações assustadoras que em uma sociedade saudável e emocionalmente estável jamais ocorreriam.
As alterações sociais e econômicas sofridas nos últimos anos, o distanciamento social imposto por uma doença ainda desconhecida e a polarização política impuseram um novo normal.
Como cães raivosos tratamos nossos iguais como diferentes e isso nos impede de focar no que importa, “a saída”.
Cubro como jornalista o que chamamos de “Hard News”, em uma tradução direta, algo como “notícias difíceis” e como o nome já diz, são precisas e não exigem do leitor muita interpretação, o que está lá é o que é. Sem floreios ou “milongas”.
Geralmente o "Hard News" no campo policial traz fatos e relatos da desgraça de alguém e acreditem, não é prazeroso noticiar algo assim, mas é necessário que alguém faça isso.
Falei sobre a sociedade como organismo vivo e da importância e dificuldades de informar.
Mas o que mais incomoda é observar a reação da sociedade frente a algumas informações e como essa sociedade reage ao ser estimulada por certas notícias.
Há pouco tempo, por exemplo, não sabíamos os nomes de nenhum ministro do Supremo Tribunal. Se topássemos com um em uma praia, raramente saberíamos de quem se tratava e com frequência seria ignorado.
As últimas ações desses magistrados e a ação da imprensa frente a isso, expondo esse grupo a todo momento, estimularam a hiper-responsividade ou seja, uma resposta exagerada aos estímulos das notícias a ponto de hoje reconhecermos esses ministros e suas ações gerando xingamentos em público e agressões físicas.
Já quando o anormal se torna normal, os estímulos a essas anormalidades já não fazem o mesmo efeito de antes mostrando uma sociedade hiporresponsiva.
Imagine o crime organizado pouco tempo atrás. Sua aparição de forma violenta em maio de 2006 mostrou um rastro de poder impiedoso, que sempre existiu, mas ficou atrás do pano que envolve a sociedade em um transe anormal.
Essas organizações mostraram a todos seu poder bélico e sem piedade fez um estado refém. Após 15 anos convivendo com relatos de ataques violentos a bancos e chacinas nos milhares dos tribunais do crime, hoje convivemos inertes as ações destes grupos retornando ao transe tradicional como se toda a sociedade estivesse dopada com Rivotril.
E quando uma ação do STF (Supremo Tribunal Federal) blinda a ação destes criminosos impetuosos, impiedosos e cruéis, mal notamos ou damos importância.
Quando, munidos de metralhadoras antiaéreas 0.50 eles cruzam blindagens de carros fortes e viaturas no interior do estado tirando a vida de trabalhadores, lamentamos as perdas por um dia e vida que segue.
Mas quando a retaliação é contra criminosos armados em forma de exércitos treinados, viabilizados por políticas públicas de criminosos de Brasília que lucram e muitas vezes comandam essas milícias, nos colocamos chocados e boquiabertos.
Nossa sociedade “dopada” caminha para o caos e viajando acha tudo lindo ou cruel, depende do quão dopados estamos.