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Nada de novo no xadrez eleitoral progressista

"[...] depois de Dilma, seria sábio apresentar alguém para a Presidência da República que não seja uma liderança política nacional reconhecida?"

Para não me contradizer, retifico a sempre pré-disposição de Lula e do lulopetismo em articular “unidade” sob a luz da subserviência, mesmo após o ex-Presidente ser preso e receber solidariedade dos lugares mais longínquos da Terra e da política. Mas pensemos a estratégica para a campanha eleitoral de 2018 de cada candidatura, após os movimentos feitos, gostemos ou não.

O PCdoB, sempre fiel e responsável, não titubeou em abrir mão de sua candidatura presidencial, mais pela necessidade de se manter um partido forte (entende-se fundo partidário e tempo de TV), do que pela tal unidade. Mas isso não tira os méritos de sua trajetória nessa pré-campanha, a disposição de Manuela D’Ávilla foi algo formidável. Com grau de constrangimento, os comunistas se aliam à Lula aos 44 minutos do segundo tempo.

Lula liderou o PT para uma estratégia cheia de ponderações, a primeira, é o método – ou essência – de isolar o aliado PDT e desidratar a campanha de Ciro Gomes, para que esta não fosse atrativa ao ponto de compor com PSB e PCdoB, mas também afastar para o colo dos tucanos os fisiológicos do “centrão”. Para isso, Lula rifou companheiros (Marília Arraes do PT) e aliados (Vanessa Grazziotin do PCdoB), estabelecendo um amargor na relação com os pedetistas, algo que deve ser superado nos próximos dias pelo bem de nosso povo sofrido. Dessa forma, como a eleição é atípica, PT e PCdoB (PROS e PCO) apresentaram o que a militância chama do Triplex Lula-Haddad-Manuela D’Ávilla, ou seja, caso Lula seja confirmado candidato ou Haddad assuma a cabeça de chapa, Manu será a vice (convenhamos que é melhor que o filho de José Alencar). Em resumo, Lula isolou o PDT, retirou o PSB da disputa presidencial (tempo de TV e recursos financeiros) e constrangeu o PCdoB, para apresentar o “inexistente” Plano B (Haddad), já com vice, em cenário que fortalece o PT x PSDB.

O PDT tomou um dos maiores tombos políticos da nossa história recente. Foi isolado pelo PT, parceiro histórico, que articulou a saída do PSB da disputa presidencial e minou o poder de atração de Ciro. Não contente, PDT saiu, no último domingo, desfazendo acordos regionais e construindo candidaturas próprias, além do mais, anunciou a ex-senadora Kátia Abreu, amiga de Dilma e Lula, para ser a vice de Ciro Gomes, o que consolida seu isolamento partidário (não havia nada mais de ruim?). No entanto, é Ciro Gomes que ainda melhor se apresenta como candidato à Presidência, com clareza em suas propostas e discurso definido. Esse crescimento é devido a sua exposição, no entanto nos cem metros rasos até a eleição, estrutura partidária faz a diferença.

Por fim, uma ponderação me incomoda, a capacidade de governar. Pois, depois de Dilma, seria sábio apresentar alguém para a Presidência da República que não seja uma liderança política nacional reconhecida? Em tempos de paz, como foi com Dilma, poderia até dar certo, mas em tempos de guerra, como foi com Dilma, é uma estratégica perigosíssima, diante do caos político que nos encontramos, mas também da disposição antidemocrática das forças de direita. Não seria mais prudente apresentar alguém que aponte estabilidade e diálogo? Alguém capaz de enfrentar e expor as contradições, enquanto articula um projeto nacional para o desenvolvimento? Questionamentos pertinentes depois dos últimos acontecimentos.

Mas, Lula está confirmado, até que a Justiça diga não. Ciro continuará até o fim. E, claro que Boulos/Sônia também estão na corrida presidencial. Como dito em maio deste mesmo ano nessa coluna, o campo progressista irá, até o limite, com estas três candidaturas e a dinâmica eleitoral e o povo irão impor o candidato que deverá prosseguir. Assim espero que alguém prossiga.

Matheus Santos

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