No início de 2015, as atletas da Ferroviária/Fundesport participaram de um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) pioneiro no Brasil que observou o impacto do treino dos músculos respiratórios – diafragma e músculos acessórios da respiração – na tolerância ao exercício de alto desempenho. Após meses de trabalho, os resultados preliminares apontam melhora significativa na tolerância ao exercício de alta intensidade. A pesquisa foi realizada pelos alunos da UFSCar de doutorado Bruno Archiza e de pós-doutorado Drª. Daniela Andaku Olenscki, sob a coordenação da Profª. Drª. Audrey Borghi e Silva e colaboração do Prof. Dr. André Capaldo do Amaral, do Centro Universitário de Araraquara (Uniara).
Durante cinco meses, as atletas foram submetidas a treinamento da musculatura respiratória pelo uso de dispositivos que dificultam a entrada do fluxo de ar durante a respiração, fazendo com que os músculos inspiratórios sejam utilizados com maior intensidade, aumentando assim sua força e resistência. Testes foram aplicados antes e depois de cumprido o protocolo de treinamento. “Observamos que ao final da pesquisa as jogadoras conseguiram permanecer em atividade de alta intensidade por um tempo maior. Também observamos uma redução no acúmulo de lactato durante esse teste, talvez isso possa explicar o porquê de sua tolerância ao exercício ter aumentado de maneira significativa”, explica Drª. Daniela.
A pesquisa também incluiu testes que simularam situações de partidas de futebol para observar a queda de rendimento que normalmente ocorre durante um jogo, os chamados testes de capacidade de sprints repetidos, que se caracterizam por “explosões” ou “tiros” rápidos com períodos curtos de repouso e recuperação. “Verificamos que as atletas obtiveram resultados bastante positivos após o treinamento muscular. A queda de rendimentos diminuiu, assim como o tempo médio de execução dos sprints”, afirma Drª. Daniela. “Todos esses resultados se traduzem diretamente dentro do campo, onde as atletas teriam uma maior capacidade de se manter em atividade física de alta intensidade e menor queda de rendimento entre uma explosão e outra”, completa.
Pesquisa inédita
Segundo o pesquisador Bruno Archiza, estudos envolvendo o treinamento da musculatura respiratória já são realizados há décadas fora do Brasil. “No esporte, o treinamento vem trazendo trabalhos e evidências científicas favoráveis ao desempenho do atleta em determinadas modalidades esportivas, mas a maioria dos estudos é desenvolvida com a natação, remo e corrida”, conta. “Podemos dizer que no Brasil muito pouco tem sido estudado nesse âmbito, sendo que esse foi o primeiro estudo, tanto no país quanto no mundo, que estudou os efeitos desse tipo de treino em atletas do futebol feminino, o que torna a pesquisa bastante importante no meio científico e prático também, pois sabemos que as capacidades pulmonares e até mesmo as características estruturais do sistema respiratório das mulheres são bem diferentes das dos homens”, diz Archiza.
Prática e futuro
Apesar da importância dos resultados obtidos até aqui, a análise dos dados continua. “Estes são apenas resultados preliminares. Nós ainda estamos analisando outras variáveis obtidas nos testes e devem surgir outros resultados interessantes”, revela Arquiza. “Pretendemos, nos próximos anos, publicar esses resultados em revistas científicas de impacto para que esses benefícios não se resumam apenas às atletas que participaram de nosso estudo, mas que possam ser aplicados a todos os atletas interessados”, projeta.
No entanto, as descobertas já podem ser implementadas na rotina de treinamento de atletas de diferentes modalidades. “Em princípio, esse treinamento já pode ser utilizado por qualquer atleta desde que seja indicado, acompanhado e avaliado por um profissional habilitado”, recomenda Drª. Daniela. “Frente à facilidade desse tipo de treino e aos resultados que observamos até agora, podemos dizer que seria uma estratégia muito interessante para as equipes implementarem em seu plano de treinamento”, afirma.